Entrevista com Antônio Rizola
Dessa vez, nossa diretora Bruna Bittencourt bateu um papo com Antônio Rizola, um dos mestres do voleibol brasileiro. O ex técnico da seleção infanto-juvenil e também juvenil da seleção brasileira, trabalhou na Confederação Brasileira de Voleibol e atualmente atua como técnico da seleção feminina de voleibol da Colômbia.
E, durante a conversa, Rizola não poupou detalhes sobre a história do vôlei no Brasil e nos contou algumas coisas que rolam nos bastidores. Confira um pequeno trecho dessa entrevista e conheça um pouco mais da história do voleibol brasileiro.
Foto de: FIVB
Por que o Carlos Arthur Nuzman investiu no aprendizado dos técnicos brasileiros com os japoneses?
Existia duas escolas principais de voleibol na época. A escola soviética e a escola japonesa. Depois que veio a escola americana e a escola brasileira. Então, na época do Nuzman, ele trouxe esse pessoal pra nos ensinar. Tanto é que nossa literatura aqui no Brasil, na época, a gente tinha que comprar livro russo da Argentina traduzido em espanhol pra gente conseguir estudar o voleibol. Essa era a maneira que a gente tinha para crescer. Pra você ter noção, o primeiro amistoso que a gente teve contra o Japão aqui, nós perdemos de 15x3, 15x6 e 15x5. E todo mundo achava o Nuzman era louco de trazer um time do Japão pra bater assim no Brasil. E o Nuzman sempre dizia: “Nós temos que aprender com os melhores e vamos ganhar deles um dia.” Esse foi o grande lance! Esse aprendizado capacitou os técnicos com os melhores do mundo, pra que eles fizessem o melhor trabalho.
De onde vem a escola brasileira de voleibol?
Depois do aprendizado todo que conseguimos dos japoneses e dos soviéticos, a escola brasileira de voleibol surgiu inicialmente de uma mescla da velocidade do Japão e a força da antiga URSS. Aí, como o Brasil não tinha pessoas tão altas como os russos e nem tão rápidas como os japoneses, mas éramos de uma estatura média-alta, os métodos de aplicação foram mais adaptados aqui com o pessoal médio-alto pra criar um voleibol com mais criatividade e velocidade. E aí, todos os técnicos da base foram se aperfeiçoando nesse tipo de trabalho. Então, o que aconteceu foi que não trocava a cada 2 anos de técnicos. Eles ficavam por longos períodos trabalhando técnicas especializadas com a base. A CBV mudava os técnicos do adulto, mas na base sempre mantinha, porque eles produziam essas gerações que ganhavam no adulto. Pra você ter uma ideia, o Percy Oncken trabalhou com a seleção brasileira de base masculina por uns 28 anos. Tem o Rubinho também, que trabalhou com o Marcos Lerbach que depois de muito tempo saiu e foi trabalhar com o Bernardinho. E por que? Pra levar as informações da base que ele tinha dos meninos que estavam há uns 6 anos na base se preparando pra chegar no adulto. No feminino, era o Adson Lima e eu, desde 89 até 2005. A gente trabalhava 4 anos com cada grupo, eu com um e ele com outro. Dois anos no infanto e dois anos no juvenil. O Zé Roberto Guimarães teve uma passagem de 2 anos na base e depois foi pro adulto. Ele trabalhou em 90 e 91 com o feminino de base e depois em 92 ele assumiu o masculino adulto. Enfim, esse tipo de trabalho fez com que o masculino ganhasse o título em 92 e no feminino fomos 4o em 92, 3o em 96, 2000 e em 2004 e depois campeão olímpico em 2008 e 2012. Todo esse pessoal passou por esse trabalho de base com esses técnicos que ficaram 24, 26 anos nessa produção de atletas.
Pra ter o resultado nas principais competições, a base sofria a pressão de ter sempre que ganhar?
Não. Nunca houve uma exigência da base ganhar. A exigência era: a base precisa fornecer bons atletas pra equipe adulta. Então , por exemplo, no feminino de 1987, ganhamos como juvenil e depois em 89. Até 2001 não ganhamos nenhum titulo mundial mais! Nós íamos pro pódio até, mas não ganhávamos o titulo. Mas, essa geração era de Erica, Fernanda Venturini, Ana Flávia, entre outras, que no adulto chegaram em duas medalhas de bronze olímpicas. A outra geração, entre 89 e 2001, que nem havia ganho o campeonato mundial ainda, foi lá e ganhou além da medalha de bronze, uma medalha de ouro olímpica em 2008. Então, a exigência não era ganhar titulo mundial, mas sim formar atletas pra seleção adulta.
Você acredita que o que a mídia fala afeta os jogadores em quadra?
Desde 1993 iniciou-se um trabalho com psicólogos nas seleções femininas. Antes disso, teve trabalhos isolados apenas. Em 93, teve efetivamente o contrato de psicólogos pra trabalhar dentro da comissão técnica. E esse psicólogo minimizou muito o sofrimento e consequências dessa negatividade da imprensa e do público. Mas, minimizou. Tanto não anulou que quando ganharam a medalha de ouro em 2008 na China, a primeira coisa que as atletas falaram foi: “É amarelo de ouro.” Isso significa que estava no coração, estava na cabeça, estava no dia a dia deles. Porque a verdade é que a única coisa que essa geração não foi, é amarelona. Perdia porque o outro time estava melhor, mas não porque amarelou ou ficou com medo de ganhar. Então, o psicólogo fazia um trabalho grande pra diminuir esse estresse. Mas interfere? Claro que interfere. Sempre fica lá no seu intimo “Pô, será que eu sou amarelona mesmo?”, “Será que eu não vou conseguir ganhar?”, e tudo mais.