Entrevista com Douglas Pureza
Douglas Pureza, um jovem atleta, que defendeu o Sesi SP na última temporada da Superliga, conversou com nossa produtora Bruna Bittencourt e deu sua opinião sobre o voleibol brasileiro. Além de um excelente líbero, Pureza conta um pouco de sua vivência e seus sacrifícios para se profissionalizar dentro do esporte que tanta ama.
Confira um trecho da entrevista com esse jovem atleta que é o futuro do nosso voleibol.
Foto de: Yara Oliveira
Porque você começou a praticar voleibol?
Então, minha irmã mais velha jogou voleibol lá no Rio de Janeiro pela equipe do
fluminense. E eu sempre tive curiosidade, acompanhava ela nos jogos e essa
paixão pelo voleibol que eu tenho hoje foi crescendo cada vez mais. A vontade de
praticar e de jogar cresceu muito. E nesse tempo, ela foi me ensinando como dar
manchete, toque, os princípios básicos do voleibol. E aí, foi aflorando em mim
essa paixão que tenho hoje e essa vontade de jogar e ser, como sou hoje, um
atleta de voleibol.
Quem você carrega como exemplo como jogador?
Exemplo pra mim... Hoje em dia, eu posso falar que, mesmo parecendo um pouco
clichê, o Serginho. Acho que até pelo fato de jogarmos na mesma posição, mas
assim... As duas temporadas que tive a chance de estar junto dele, a gente vai
ouvindo histórias, sabendo como foi o dia a dia deles e dele, principalmente,
sempre me chamava mais atenção e me inspirava mais. Então, a partir disso, ele
passou a ser uma inspiração maior pra mim. Uma pessoa que eu passei a ver com
outros olhos e me inspirar mesmo.
Essa convivência que você tem com jogadores mais velhos e mais experientes oferece alguma troca de experiências e conhecimento?
É engraçado porque quando eu estava na base, eu sentia muito medo. Um receio
de como seria com eles. Aquele medo de treinar com eles, de errar, fazer alguma
coisa errada, sabe? Mas depois que o tempo foi passando e eu comecei a jogar
com eles [Lucão, Bruninho, Serginho e Murilo], eu fui pegando o ritmo e foi
virando um cotidiano normal. Como se fosse da mesma categoria que eu quando
jogava no infanto, por exemplo. No meu caso, eu sempre vi jogos! Sempre via
Murilo, Serginho, Ricardinho, jogando. Então, quando você para e vê que está
jogando ali do lado deles é muito gratificante. E outra, pra pedir conselhos e
coisas táticas, eles estão sempre de mente aberta pra te responder, ajudar, falar o
que deve ou não fazer, um toque aqui ou ali. Então, é uma coisa muito boa e fácil.
Uma convivência boa!
Quais as maiores dificuldades você enfrentou ao iniciar sua profissionalização recentemente?
Então, é complicado. Porque muita gente tem sonho de ser um atleta
profissional. Então, é uma escolha de vida mesmo que você tem que fazer. Você,
optando por ser um jogador, você acaba tendo que deixar de lado muita coisa,
como os estudos. E pra retomar depois, é difícil! Já presenciei amigos e até
mesmo comigo... Eu tive que largar os estudos pra poder seguir meu sonho que é
me profissionalizar como um atleta de voleibol.
A criatividade do jogador brasileiro é destaque de outros jogadores do restante do mundo?
Acho que sim! No meu ponto de vista, tem jogadores que já tem esse talento
criativo, que já vem com isso neles, porque nasceu, sabe? Outros vem do vôlei
de praia e isso ajuda demais! Além disso, tem essa malandragem do brasileiro
que é levado pra dentro de quadra. E isso acaba interferindo bem,
comparando com atletas do resto do mundo. Mas confesso, que acho que isso
não tem tanto hoje como tinha no passado.
Na sua opinião, qual a importância dos treinamentos de base?
É muito importante mesmo! Eu posso falar com propriedade! Agora eu subi pro
profissional e a gente vê que se a gente não tiver uma base muito boa, quando
chega no profissional, o nível é altíssimo. Então, detalhes que você aprende na
base, você deve aplicar no profissional de forma natural. Se não, quando você sai
da base e vai pro profissional, você sofre. E pra tentar aprender quando já está
no profissional, é quase impossível, porque é momento de aperfeiçoar e o tempo
de aprendizagem é bem menor.
E esse estilo brasileiro de voleibol. Qual a sua opinião sobre ele?
Eu acho que teve uma época onde esse ensino de voleibol brasileiro foi muito
boa. Mas acredito que hoje a gente estacionou um pouco. Os outros países já
estão evoluindo um pouco mais sobre esse jeito de ensinar, sobre táticas de
voleibol e aqui não. Existiu uma época onde o Brasil foi muito bom, foi uma época
muito boa pro nosso voleibol. Mas hoje em dia, demos uma estacionada. Até
mesmo pelo fato dessas gerações terem vindo e ganhado tudo. Mas agora o Brasil
está passando por uma fase de renovação e vai vir com dificuldades, porque
esses jovens atletas que estão vindo, como eu, têm ensinos e treinamentos
diferentes dos mais antigos aqui no vôlei no Brasil e também muito diferente do
treinamento que tem nos outros países.
Você sendo um jogador novo, porque acha que existe uma certa escassez de jogadores ingressando na área?
Acho que é pelo fato de termos estacionado um pouco no tempo. Houve um
investimento muito grande nessa ultima geração e acabamos deixando de lado
um pouco os jovens, essa safra nova que está chegando. Por isso, é difícil agora
pro Brasil, o país que é acostumado em ser campeão. Vai ser um momento difícil
e cheio de reviravoltas para que consigamos subir no pódio.