Entrevista com Fernanda Venturini
Em um rápido bate papo exclusivo com nossa produtora, Bruna Bittencourt, a ex jogadora de voleibol, Fernanda Venturini nos conta um pouco da sua percepção e vivência dentro da história do vôlei no Brasil e ajuda a complementar esse belíssimo projeto que narra o crescimento do esporte.
Fernanda Venturini, não apenas um ícone do voleibol feminino, não poupou esforços e detalhes para poder compartilhar algumas opiniões e história conosco. Confira um trecho interessantíssimo sobre a história do voleibol aos olhos da queridíssima Fernanda Venturini.
Foto: Gazeta
A seleção feminina de vôlei já foi citada " a seleção que amarelava no final" esse tipo de mídia pesa no psicológico?
Alguns afetam com certeza. Mas, a partir do momento que você fica experiente, vai adquirindo bagagem, a questão não é que amarelava, a questão é que o Brasil estava muito a quem das equipes mundiais. Não tinham condições técnicas para ganhar os torneios. Eu acho que era mais isso mesmo, do que amarelar. Amarelar contra o Peru era perder na fase áurea do Peru. Contra Cuba, era perder na fase áurea de Cuba. Então, é complicado. Hoje perder pode ser "amarelar", porque hoje as seleções são iguais, tem um nível muito parecido, mas quando tem uma discrepância enorme entre uma seleção e outra, só um milagre pra você ganhar dessas equipes. Então, eu acho que com certeza podem ter tido jogos que sentiram o peso psicológico, eu tive companheiras que jogavam até o 20 ponto. Antigamente era até o 15, mas no caso de hoje seria que jogariam até o vigésimo ponto, outras que gostam de jogar do 20 ao 25. Então assim, isso é de pessoa pra pessoa. Agora, com certeza, as vezes você é imaturo, você sofre com as decisões. Tem gente que sente, tem medo, mas com o passar do tempo muita gente supera isso e se torna um grande jogador.
Você vê Saquarema como um ponto positivo para as seleções de base e adulto?
Com certeza! Porque a partir do momento que apareceu Saquarema, as equipes ficaram concentradas. Se você vem para Rio de Janeiro, você quer sair, ir para o barzinho, sair com a namorada... Então, a partir dali você ficou confinado, de segunda a sexta era só voleibol, voleibol, voleibol. Não tinha como desviar a atenção. Já nas cidades grandes não tinha como você ter um alto rendimento, com certeza você perdia a concentração, ia dormir tarde, etc. Enfim, eu acho que Saquarema ajudou sim essas seleções, seja feminina, masculina, jovem mais velha...todas!
Você concorda que a tradição de uma grande seleção de vôlei vem da base? Por que?
Eu acho que o vôlei... o trabalho de base é essencial, e que hoje quase não se trabalha. Tanto é que você vai ver o Brasil vai ter equipe pra jogar mais uma ou duas olimpíadas e depois não vai ter mais , vai cair drasticamente porque não se trabalha mais na base. Você pode ver clubes que eu joguei: Paulistano, Pinheiros,... Eu jogava em vários clubes em São Paulo. Hoje não tem campeonato Paulista forte, hoje não tem campeonato carioca forte e na minha época a gente jogava muito no interior. Já joguei em Ribeirão Preto, por exemplo.
Então, eu acho que isso é o pecado. Não acreditaram e não fizeram acontecer. Foi mal trabalhado. Não conseguiram montar um esquema legal para que a base estivesse boa... E também na questão de formar atletas completos que saibam passar, que saibam defender. Hoje em dia é difícil encontrar um atacante que passe bem, que defenda bem. O Bernardo mesmo fala nós vamos ter problemas porque não tem uma renovação, simplesmente não vem igual na minha época que virava e mexia, de uma seleção saiam 3 pra adulta. Já hoje em dia é uma que sai male má. Não é como antigamente. Hoje nós vamos pecar! Daqui umas duas olimpíadas nós vamos mudar drasticamente do primeiro para sei lá pra qual posição.
Em times de base, os técnicos ficam por anos. Você acha isso bom?
Eu acho que tem que ter renovação, porque o tempo está mudando, a velocidade que a informação chega hoje nas pessoas é muito rápido, entendeu? Se for uma pessoa que está há 26 anos, mas está se reciclando, fazendo cursos, acompanhando a evolução do esporte, ok. Mas se for aquela pessoa que está ali, há 26 anos com o mesmo treininho, a mesma coisinha e não teve nenhuma melhora, eu acho que tem que mudar.